Recentemente atendi uma paciente com dor no quadril. Ela chegou mancando, segurando a respiração e dizendo que “deve ter dormido torta”.
Mas ela não dormiu torta.
Ela trabalha há seis meses em home office, com três filhos pequenos, marido convenientemente ausente, rotina sem pausas e um único momento de silêncio: o banho. Cinco minutos, se muito. Quente e relaxante, poucas vezes. Correndo, sempre. Isso quando dá.
A dor começou na lombar, foi migrando. Agora estacionou no quadril. Ela me perguntou se era problema no nervo. Talvez seja. Mas a pergunta mais urgente não era sobre a saúde de seus movimentos.
A pergunta era outra: o que o corpo dela está tentando dizer que ela insiste em não ouvir?
A maioria de nós aprende a se calar antes de aprender a se escutar.
A gente engole o choro, o cansaço, a frustração — e o corpo guarda tudo. Como uma mala malfechada que vai estufando.
E um dia, ela arrebenta.
Você chama de “dor nas costas”.
Eu chamo de sobrecarga não nomeada.
Você diz “travei o pescoço”.
E eu pergunto: em que momento da sua vida você começou a travar o que queria dizer?
O corpo fala, mesmo quando a gente finge não entender.
A dor que se repete não é um defeito. É uma carta. Uma mensagem. Um recado não lido.
A ansiedade que pesa no peito, a gastrite queima no silêncio, a insônia que grita às três da manhã — tudo isso tem voz.
Não é o pulmão que está ruim. É o ar da sua vida que está rarefeito.
Não é só o ciático inflamado. É o seu limite pessoal que foi ultrapassado há meses.
A boa notícia?
Seu corpo nunca mente.
E ele é paciente. Ele não grita de uma vez. Ele avisa. Dá sinais.
Primeiro, cansa. Depois, pesa. Depois, dói. E só quando você continua insistindo em não ouvir, ele paralisa.
Dor é linguagem.
Sintoma é metáfora.
Postura é história.
O tratamento, às vezes, começa com uma agulha, um ajuste na coluna, uma respiração mais consciente.
Mas a cura real…
A cura começa no momento em que você para de brigar com o corpo e começa a conversar com ele.
Hoje, meu convite é simples:
Escute seu corpo.
Feche os olhos. Respire devagar. Sinta onde dói.
E, antes de correr para o remédio ou para o alongamento do YouTube, faça uma pergunta que talvez mude sua vida:
“O que o meu corpo está tentando me contar… que eu ainda não tive coragem de ouvir?”
Cuide-se.
Com gentileza. Com atenção. Com presença.
Seu corpo é a sua biografia escrita em palavras que estão escritas no inconsciente.
Aprenda a lê-las.
Nos vemos na próxima sessão — ou na próxima reflexão.
Com carinho,
Alceu
Fisioterapeuta | Osteopata | Acupunturista